[Vida] 1986, a primeira geração de estudantes universitários de computação da China

Autor: JEFFI CHAO HUI WU

Data: 2025-6-26 Quinta-feira, às 13:56

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[Vida] 1986, a primeira geração de estudantes universitários de computação da China

Em 1986, ingressei na Universidade de Shenzhen, tornando-me um dos primeiros alunos do curso de Computação dessa jovem universidade. Naquele ano, a educação em computação no país ainda estava em seus estágios iniciais, com hardware escasso, falta de materiais didáticos e recursos limitados. Todo o curso tinha uma forte característica experimental, como uma aventura em busca de direção na névoa. Naquela época, Shenzhen estava apenas começando a entrar na era da reforma e abertura; a cidade era nova, a escola era nova e a computação era um conceito completamente novo. Muitas pessoas nunca tinham visto como era um "computador"; a sociedade ainda estava presa à fase de usar ábacos para contabilidade e máquinas de escrever para redigir documentos. Nós, esse grupo de jovens, éramos chamados de "o futuro da computação", mas ninguém realmente sabia como seria esse futuro.

Naquela época, encontrar livros de informática sistemáticos no país era quase um luxo. As estantes da biblioteca estavam vazias, conseguir pegar um exemplar de "Introdução à Programação em BASIC" era como ganhar na loteria, e a maior parte do aprendizado dependia das anotações manuscritas e dos materiais que o professor escrevia no quadro. Em sala de aula, os professores geralmente seguiam o livro, explicando comandos, sintaxe e fluxos, e atribuíam algumas tarefas de programação simples. Muitos alunos apenas copiavam mecanicamente do livro, digitando linha por linha os comandos rigorosamente de acordo com os passos, sem nunca pensar por que deveriam escrever daquela forma, e muito menos se atrever a modificar ou inovar. Mas eu, desde a primeira aula, não consegui resistir à vontade de desmontar aqueles códigos, alterando cada parâmetro, tentando fazer o programa gerar resultados diferentes na tela, e até comecei a tentar escrever meus próprios pequenos programas.

Eu rapidamente percebi que o computador não é uma "máquina morta", mas sim uma tela que pode ser estendida infinitamente; desde que você tenha coragem de tentar, pode desenhar qualquer lógica e mundo sobre ela. Uma vez, o professor deu um exercício de programação que parecia simples — imprimir os números de 1 a 100 na tela. A maioria dos alunos seguiu o processo do livro didático e escreveu dezenas de linhas de instruções de loop, enquanto eu, após refletir, completei a tarefa com menos de cinco linhas de código simplificado. Naquele dia, o professor ficou olhando para o meu programa por um bom tempo, com um olhar de surpresa e incredulidade, e finalmente apenas disse calmamente: "Sua compreensão do computador já ultrapassou os limites da sala de aula." Foi naquele momento que percebi, pela primeira vez, que havia uma sintonia e possibilidades infinitas entre mim e essa máquina que outros não haviam sentido.

Eu rapidamente me senti insatisfeito com o conhecimento adquirido em sala de aula e comecei a procurar desesperadamente por diversos materiais para complementar. Naquela época, para aprender programação, quase só se podia contar com "escavação". Muitas vezes, eu ia à biblioteca durante meu tempo livre, folheando página por página todos os materiais relacionados a computadores, absorvendo o que conseguia entender. As bancas de livros usados se tornaram meu lugar favorito, onde encontrei uma cópia amarelada do original em inglês de "Programação em C", cujas páginas estavam cheias de anotações escritas por outra pessoa. Gastei todo o meu dinheiro de um mês para comprá-la. Naquele momento, eu quase não entendia inglês e só conseguia traduzir palavra por palavra com um dicionário. Durante o dia, assistia às aulas e à noite, com uma luminária, comparava com o dicionário; talvez conseguisse entender apenas uma página por noite, mas não desisti, porque sabia que não era apenas um livro, mas uma chave que poderia abrir as portas do futuro.

Em 1987, a escola introduziu um novo computador IBM 286, que era o equipamento mais avançado da época, com uma velocidade duas vezes mais rápida do que a de um computador XT comum, e ainda conseguia rodar interfaces gráficas primitivas. Mas essa máquina estava trancada na sala de computadores, e apenas professores e pós-graduandos tinham permissão para operá-la; para os alunos de graduação, era quase impossível se aproximar dela. Eu não me conformava e, todos os dias ao meio-dia, corria para a sala de computadores, fingindo organizar materiais, enquanto secretamente observava os pós-graduandos debugando programas e executando diferentes comandos. Finalmente, um dia, o administrador saiu temporariamente da sala, e eu reuni coragem para sentar na frente do 286, com os dedos levemente tremendo e o coração batendo tão rápido que quase podia ouvir. Com cuidado, digitei a primeira linha de um programa em C, e quando a famosa mensagem "Hello, World!" apareceu na tela, o mundo inteiro ficou em silêncio. Minha mão, que segurava o teclado, foi lentamente abaixada, e a emoção e excitação que sentia dentro de mim vieram como uma onda; naquele momento, eu sabia claramente que podia controlar aquela máquina, que poderia criar minha própria lógica e ordem neste mundo que parecia tão frio e impessoal.

No entanto, a realidade rapidamente me deu um banho de água fria. Em 1988, fui estagiar em uma empresa de eletrônicos, cheia de expectativas de finalmente poder aplicar o que aprendi na prática, sonhando em participar de alguns projetos ou pesquisas centrais. Mas ao chegar à empresa, percebi que o que eles chamavam de "departamento de informática" não passava de algumas máquinas XT usadas para registrar dados e imprimir relatórios, e todo o trabalho não exigia nem uma linha de código. Fiz algumas sugestões de melhorias, dizendo ao supervisor que, se fosse criado um programa de gerenciamento de dados automatizado, isso poderia tornar o processo várias vezes mais eficiente, mas o supervisor apenas respondeu friamente: "Computador é apenas uma ferramenta, o importante é saber usá-lo." Naquele momento, senti um choque total; eles não conseguiam ver o potencial infinito por trás dos computadores, apenas os viam como uma máquina para substituir ábacos e livros de contas. De repente, percebi que a verdadeira onda da era da computação na China ainda estava longe de chegar, mas eu já estava a caminho e nunca olharia para trás.

Após o estágio, escrevi o meu primeiro programa completo na vida — um sistema de gestão de notas de estudantes. Embora a funcionalidade seja simples, apenas permitindo a entrada de notas dos alunos, a contagem automática do total e da média, e até mesmo a classificação por notas, quando vi o programa funcionando corretamente e gerando tabelas de dados organizadas, pela primeira vez senti de forma genuína que o computador não é apenas um brinquedo para cientistas, não é apenas um equipamento frio em um laboratório, mas sim uma verdadeira força capaz de mudar o mundo real.

Em 1989, eu entrei no terceiro ano da faculdade, e a dificuldade dos cursos aumentou abruptamente. Teoria da Compilação, Estruturas de Dados, Linguagem de Montagem vieram em sequência, mas meu ritmo de aprendizado ainda era leve. Até mesmo algumas empresas entraram em contato comigo, esperando que eu pudesse estagiar e ajudá-las a construir pequenos sistemas de informação internos. Quando todos pensavam que eu iria me formar com sucesso, obter um diploma capaz de mudar meu destino e, em seguida, conseguir um emprego bem remunerado que todos invejariam, eu tomei uma decisão que ninguém conseguiu entender — decidi abrir mão do exame de graduação e partir para o exterior em busca de novas oportunidades.

Todos estão me aconselhando: “Faltam apenas duas semanas para a formatura, por que você desistiria?” “Ao obter o diploma em Ciência da Computação, seu futuro será mais promissor.” “A China está apenas começando a desenvolver a computação, sair significa destruir seu próprio futuro.” Mas eu sei muito bem que ficar significa ficar preso ao sistema, significa que só poderei avançar lentamente em uma trilha estreita, enquanto o futuro que vejo vai muito além disso.

Em março de 1989, peguei um simples mala e embarquei em um voo para a Austrália. Naquela época, eu quase não sabia nada sobre a Austrália, não falava inglês e nem sabia quanto custava um bilhete de ônibus, mas eu sabia que do outro lado do mundo havia a liberdade e o desconhecido que eu queria perseguir. Dentro daquela mala, além de algumas roupas, a coisa mais valiosa era aquele livro de "Programação em C" que eu folheava repetidamente e um grosso livro de "Estruturas de Dados".

No momento em que o avião pousou no aeroporto de Melbourne, eu estava em uma rua desconhecida, tudo ao meu redor era novo, o ar misturava-se com cheiros estranhos, e eu não sentia muita empolgação, apenas uma clara confusão e uma determinação inabalável de não voltar atrás. Eu sabia que esta era uma jornada sem retorno.

Eu não obtive o diploma de graduação em Ciência da Computação, mas aqueles anos me deixaram uma riqueza ainda mais valiosa: a capacidade de pensar de forma independente, a coragem de questionar a autoridade e a determinação de explorar o desconhecido. Trinta anos se passaram, e aqueles que na época duvidavam que eu estava "destruindo meu futuro" talvez já tenham se afastado dessa indústria, enquanto eu continuo a sustentar um sistema após o outro que transcende épocas, desde a inteligência logística, passando pela otimização da estrutura da informação, até a interação inteligente em múltiplas dimensões. Em cada um desses campos, há vestígios da minha presença. Eu não sou um "profissional de computação" no sentido tradicional, mas usei a computação para reescrever a realidade.

Sou a primeira geração de estudantes universitários de computação da China, mas meu objetivo nunca esteve naquele diploma de graduação. Tudo isso é apenas um começo.

Fonte: http://www.australianwinner.com/AuWinner/viewtopic.php?t=696527